
Tenho percebido que algumas pessoas acreditam que a dor é algo que promove a educação do Homem já que ele não consegue somente aprender pelo amor. Inclusive, afirmam que essas são as duas formas de aprendizado na vida, a dor e o amor. Então, passei a lembrar-me das frases que têm sua base nessa crença cuja idéia mostra um ponto de vista diferente sobre a realidade da dor humana. E refleti sobre como pode um acontecimento ruim transformar-se em algo bom. Não tenho a pretensão de ter descoberto algo inédito, mas, para mim, a coisa passou a ter sentido. Na verdade, possui uma lógica sutil que quase passa despercebida.
Há quem diga que querer pensar que a dor proporciona educação e, portanto, desenvolvimento do Ser, é uma estratégia para sublimar os dramas do cotidiano. Como se trata de algo que é inerente ao Homem, ou seja, ninguém pode deixar de sofrer, pois a vida é cheia de desgraças, a saída é organizar as idéias de uma forma que permita ao sujeito prosseguir em sua jornada. Aqui, nesse caso, o pensamento da dor se apresenta bem definido e bem localizado. Dor é provocada por algo de grande importância envolvendo grandes decepções e grandes frustrações. É algo de proporções gigantescas que, para o expectador, gera algum tipo de comoção. Na verdade, essa forma de escapar da realidade acaba sendo bem inteligente e, ao mesmo tempo, remetendo ao sentido da dor para algo dessa envergadura.
Então questionei sobre o que provoca a dor. Principalmente porque ela tem a finalidade de educar. De que forma as pessoas poderiam aprender com algo ruim acontecendo em suas vidas? Afinal, ela jamais vai ser debelada da existência humana.
A conclusão que cheguei é que esse momento doloroso na vida de cada pessoa não se restringe aos acontecimentos trágicos. Na verdade, esse aprendizado com a dor é constante, permanente. Ora, se for possível entender que o Ser humano está em constante transformação e aprendizado, torna-se quase que redundante afirmar que a dor ensina. Isso porque os acontecimentos que provocam uma readaptação do sujeito à uma determinada situação sempre causa desconforto. Sendo assim, desconforto é dor. Claro que em um grau de intensidade relativo. Mas é dor. Como todos têm uma tendência para encontrar um meio de acomodar-se, ou seja, temos uma tendência a vivermos buscando uma forma de encontrar uma zona de conforto, a vida vem mexer nessa “arrumação”, na totalidade espiritual que predomina.
Lançando mão de um exemplo simples, se uma pessoa está acostumada com a disposição do sofá da sala de uma forma e alguém muda, muito provavelmente provocará nela uma rejeição grande por causa do novo formato ao qual ela terá que adaptar-se. Os hábitos, os ritos, a estética, o ângulo, o tempo etc., passam a ser de difícil aceitação. Vai demandar um trabalho de readaptação de tudo, inclusive, valores íntimos. Tudo educativo! Nesse caso específico, o desgosto é relativo, claro, mas utilize essa lógica para outras situações como o fim de um namoro, a arrogância do vizinho, o amigo que falhou, a chuva que molhou, e outras situações que se apresentam de inúmeras formas.
Quando falo da relatividade do desgosto é por que ninguém sabe ser contrariado. Normalmente, a zona de conforto invoca o ego quando se sente invadida. Além disso, existem aquelas pessoas que são mais sensíveis aos acontecimentos. São as pessoas que conseguem perceber um mínimo traço de mudança no seu cotidiano e, por causa de sua sensibilidade, acabam por, muitas vezes, sofrer de maneira mais acentuada. Ademais, se o Homem constrói um modelo mental para entender o mundo, é natural que se agarre à sua forma de interpretar a vida passando a defender este modelo. Afinal, essa estrutura é que lhe dá condições de entender as relações objetivas e subjetivas no meio em que está inserido.
Portanto, não é assim que essa força que nos submete à essas situações, que se realizam independente de nossa vontade, pensa como algo bom para a evolução do ser. Parece que o desejo dessa determinação incompreensível, que muito pode ser o resultado das escolhas equivocadas que fazemos, ou simplesmente, escolhas vindas de nossa ignorância ou da ignorância do outro, quer que o Ser humano esteja em constante movimento de aquisição de novas experiências para depurar e renovar a sua essência.
Lembro que esse texto não tem o propósito de fazer a defesa da dor como algo de desejo masoquista, mas, como não é possível viver sem ela, acredito que entendi o que os sábios pregam sobre essa coisa que macera a alma. Só assim pude compreender, também, quando se diz que alguém é feliz quando a dor o abate. Não pelo momento, mas pelo que vem depois: o aprendizado como resultado da superação.
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É isso mesmo, Mhauro. Agora que tô entendendo e vivendo sob tal perspectiva. Claro que ainda tá td mt no começo, pq o mundo insiste numa felicidade constante. Até parece... Nós, ocidentais e "superficias", temos mais dificuldade. No Oriente, até a beleza é conceituada a partir do bem-estar mental e espiritual. Veja que evolução!
ResponderExcluirAbraço.
Olha que se fosse vc não duvidaria tanto...:)
ResponderExcluirSaudades!
Bjão!
Juliana e Renatinha.
ResponderExcluirQue bom "ouvir" vocês.
É assim mesmo, vamos prosseguir. bjs.