
O marketing pessoal, a vertente do trabalho de marketing que mais aponta a participação do sujeito de forma direta sobre o mercado e que obtém como retorno os frutos que lhe atendem exclusivamente, talvez seja o menos percebido como importante por falta de entendimento do sujeito sobre a importância de sua participação em eu grupo. De acordo com Oliveira (1999, p.20), “com o marketing pessoal, o seu maior cliente é você mesmo. E que dá esse retorno, é o público expectador. A qualidade e o conteúdo das mensagens que você passa a eles depende de suas crenças e condições internas que são inconsciente em sua maior parte”.
Se for comparar uma pessoa com os 4Ps do composto de marketing o sujeito tem sempre que ter em mente que ele concebe, planeja e executa as suas ações. O seu produto é ele mesmo pois a demanda é a sua formação profissional ou pessoal. Além disso, ele tem que ter uma medida justa e de acordo com o seu posicionamento e com o que se queira atingir, eis o seu preço. Sobre a sua promoção, é necessário que saiba utilizar de forma inteligente e consciente as oportunidades de valorizar-se e divulgar-se. Com isso, sabendo a hora certa e o lugar certo, realiza a distribuição (idem, p.23).
É importante lembrar que o marketing pessoal vai além da aparência, que, claro, é a primeira impressão que causa aos expectadores. Contudo, é necessário não somente parecer, mas é necessário ser. Demonstrar inteligência emocional, habilidades em comunicação, autoridade moral, entusiasmo etc, são alguns dos pressupostos intrínsecos ao sujeito para que ele possa ser bem sucedido junto ao seu grupo (JULIO, 2007), “pois o mercado não compra produtos, compra a satisfação das expectativas que tem em relação a estes produtos” (OLIVEIRA, 1999, p.24).
A partir da percepção da força da opinião do grupo sobre o sujeito que, inserido em uma sociedade moderna, vive as limitações e os incentivos determinados pelos grupos sociais de sua convivência é possível entender um pouco sobre a importância do marketing social.
Essa percepção provoca o interesse em conhecer, de forma aprofundada, a influência do imaginário coletivo na ação do sujeito. Acredita-se que, entendendo como se constrói esse imaginário social será possível uma compreensão da realidade que cerca o sujeito.
Considerando que os “colaboradores” de organizações, não têm outra opção que viver com o grupo formado no ambiente profissional, nessa interação de trabalho é possível perceber o antagonismo das relações sociais contemporâneas quando, ao mesmo tempo que provoca uma relação superficial e descartável por causa da competitividade e da instabilidade nas relações de trabalho (ANTUNES, 1998), força o indivíduo a ampliar sua rede de amizades para que este possa aumentar as possibilidades de oportunidades e êxito profissional.
Um autor importante para a construção do entendimento da convivência em grupo é Max Weber, pois este analisa a sociedade considerando como objeto da sociologia a ação social referindo-se ao conjunto de ações recíprocas dos homens agrupados (WEBER apud TOMAZI, 1999). Na ótica weberiana, trabalho e relação em grupo são duas necessidades imprescindíveis à vida do ser social (WEBER, 1997, p.79). Afirma Weber: “a influência indireta das relações sociais, instituições e agrupamentos humanos submetidos à pressões de interesses materiais estende-se (muitas vezes de modo inconsciente) por todos os domínios da cultura [...].” (idem, p.81).
Enquanto Weber contribui com a sua visão de ação social ressaltando a interação entre os sujeitos, Bourdieu contribui de forma importante quando ressalta a sutileza da simbologia interferindo em nossas vidas sendo possível o reconhecimento dessa força através de estudos das relações sociais com procedimentos inovadores.
De acordo com Bourdieu (1989), a cicência, em sua busca pela apropriação do saber, incentiva a utilização do conhecimento interdisciplinar para que esses variados setores contribuam para a compreensão do foco investigado, devendo, o cientista, “converter problemas inteiramente abstratos em operações científicas inteiramente práticas” (p.20).
Para este autor, uma boa pesquisa não deveria se prender aos procedimentos metodológicos tradicionais, na medida que essa metodologia ponha em risco o bom resultado final do trabalho. Sem olvidar da extrema vigilância na utilização das técnicas, afirma:
Em suma, a pesquisa é uma coisa demasiado séria e demasiado difícil para se poder tomar a liberdade de confundir a rigidez, que é o contrário da inteligência e da invenção, com o rigor, e se ficar privado deste ou daquele recurso entre os vários que podem ser oferecidos pelo conjunto das tradições intelectuais da disciplina e das disciplinas vizinhas [...] Livrai-nos dos cães de guarda metodológicos (idem, p. 26).
Em se tratando da invenção e da inteligência para a proposição de um trabalho de pesquisa ressalta Bourdieu que é necessário um processo contínuo de vivências, experiências e sensibilidade para, daí, ser possível a extração do foco de investigação para, posteriormente, formular estratégias de aprofundamento em pesquisa.
Sem olvidar de lançar mão da perspectiva de Michel Maffesoli:
(O sujeito é) fundador simultâneo de uma “estética científica” atenta às menores imagens do cotidiano, ao frívolo, efêmero, conquistadora do presente e do atual e de um neobarroquismo epistemológico ligado, este também, ao [...] vazio das aparências. (PLON apud DURAND, 1998. p. 55).
Assim, apoiado em mestres das ciências puras, propõe-se desenvolver um conhecimento interdisciplinar na tentativa de contribuir para a compreensão da visão de uma vertente das relações sociais situada entre o sujeito e o seu grupo social, enfocando a influência da formação de subjetividades, ou do imaginário, oriundos do grupo, a respeito de um de seus membros na ação deste último, ou seja, o interesse é demonstrar como o imaginário de um grupo influencia na vida do sujeito participante desse grupo nos processos cotidianos.
CONSTRUINDO O OBJETO
Primeira mente, é necessário discorrer sobre alguns teóricos na tentativa de embasar essa percepção. De fato, com o resgate das obras de determinados autores, foi possível construir a explicação sobre o que foi considerado significativo para o foco dessa explanação.
Retomando Weber, é importante enfatizar os tipos de ação social neste levantamento de delineamento de pistas teóricas. De acordo com este autor, as ações dos homens junto ao seu grupo configuram-se da seguinte forma:
Ação tradicional é determinada por um costume ou um hábito arraigado; a Ação afetiva é determinada por afetos ou estados sentimentais; A Racional com relação a valores é determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade; Racional com relação a fins é determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. (WEBER apud TOMAZI, 1999, p. 20)
Pautada por estes valores, os quais atribuem sentido às várias ações, a ação no grupo se dá na medida em que o sujeito calcula suas intenções de uma maneira que não se choque com as intenções de outros os quais, por sua vez, farão a mesma coisa.
Portanto, levando em conta que as regras de comportamento social ou exigências de conhecimentos técnicos são impostas pelo padrão cultural, supoõe-se que esteja neste último a base estruturante de valores grupais. Por esta razão, forma-se um imaginário sobre um determinado sujeito, pois quem confirma a importância do seu papel social é a opinião do grupo.
Segundo Sartre (1978, p 16), “para obter uma verdade qualquer sobre mim, é indispensável que eu passe pelo outro. Assim, [...] é neste mundo que o homem decide o que ele é e o que são os outros”.
Esta colocação nos põe diante das relações interpessoais como construtoras do meio social para ser possível o conceito sobre um sujeito. Esta relação, ao mesmo tempo, revela a delimitação das expressões do sujeito para a construção íntima e interpessoal, permitindo que o mesmo estabeleça valores que servem de base para a mútua convivência.
A maneira como o sujeito se reconhece passa, antes, pelo que está fora, por aqueles que o cercam e referendam sua existência. O sujeito só existe porque o seu grupo assim o afirma e esta interação é que lhe devolve a resposta. É uma construção onde cada pessoa espera ou trabalha por ser posicionado no grupo. Muitos chamam de “rótulo” quando é pejorativo ou “empoderamento” quando é favorável.
É exatamente numa dessas vertentes entre o que é positivo e negativo sobre o sujeito aos olhos do seu grupo social e entre o que é patente e latente sobre a consciência de ação do sujeito que pretende-se apontar a respeito da influência de um grupo sobre o sujeito e da ação do sujeito frente ao seu grupo. Afinal, qual a importância dos conceitos formados por um grupo sobre um sujeito? O sujeito percebe a possível influência desse imaginário em sua vida? Não percebendo, como transpor barreiras invisíveis?
Ressalte-se, ainda, que, de forma alguma, estará sendo impostas visões cristalizadas nem fórmulas de sucesso, mas, sim, buscando compreender de maneira mais aprofundada a influência do grupo social sobre o sujeito.
Sobre a percepção de existência de algo mais na relação entre pessoas, Pichon (1988), médico estudioso de psicologia social considera a existência de uma pessoa a mais na relação interpessoal. Este autor visualizou a existência de um terceiro Eu. Segundo o teórico, nas relações interpessoais existe o Eu, o Ele e o Eu interno desconhecido e atrapalhado que julga existir sempre alguém olhando, vigiando e corrigindo. Esta “presença” é a terceira pessoa. Diz ainda que aprender é fazer uma apropriação instrumental da realidade, transformando-a e transformando-se ao mesmo tempo considerando que o que serve para uns não serve para outros.
Este pensamento está inserido na Teoria do Vínculo que trabalha a percepção do indivíduo sobre a interferência do grupo. É a compreensão participativa da assimilação do conhecimento. Quando alguém ensina, também aprende. Ressalta a história do sujeito, a qual chama de verticalidade e a história do grupo a qual chama de horizontalidade compreendendo a necessidade de um cruzamento entre estas histórias para o aprendizado do sujeito.
Pichon diz que o sujeito nunca mais será o mesmo a partir dessa interação, tendo uma terceira pessoa a interferir ou interceder nessa relação interpessoal.
A verticalidade e a horizontalidade do grupo se conjugam no papel, necessitando a emergência de um ou mais porta-vozes, que, ao enunciar seu problema, reatualizando seus acontecimentos históricos, denuncia o conflito da situação grupal em relação à tarefa. (ZIMERMAN, 1997, p. 89).
A teoria referenciada nos faz entender o quanto temos ainda por descobrir sobre a complexidade das relações, considerando o holos humano nos respaldando sobre o que concebemos a respeito da existência de um imaginário social.
Quando analisa-se o sujeito inserido em um grupo, entende-se que o todo é maior que a soma das partes, ou seja, considerando esse todo, não seria isso uma quarta pessoa ou o imaginário social na relação sujeito/grupo e grupo/sujeito?
Por isso, considera-se, também, que a realização de desejos pessoais frente aos projetos alheios, revela-nos a possibilidade de um âmbito individual a ser avaliado pelo grupo social. Assim, é possível recorrer, ainda, a um quadro explicativo sobre a existência do sujeito ou, como a Janela de Johari (2004) denomina, o Eu.
Johari compreende a existência de canais cognitivos e canais motivacionais considerados de simples compreensão como o consciente e de complexa compreensão como o inconsciente. Revela-nos uma visão mais ampla sobre o íntimo humano com o entendimento do Eu, abrindo, assim, possibilidades de hipóteses para favorecer a compreensão da pessoa a respeito de si próprio, através de autocrítica consciente.
De acordo com a Janela de Johari, existem quatro categorias de conhecimento do EU ou Sujeito que, nesse caso, quando lida-se com a questão da inconsciência ou da consciência estará sendo enfocando os papéis sociais ou a performance individual. Mesmo porque, o Ser só consegue se tornar um sujeito sociável quando interage com um grupo de pessoas.
Dividida em quatro “compartimentos”, esta teorização da Janela de Johari configura quatro dimensões do Eu: o EU consciente, claramente revelado ao sujeito e àqueles que o cercam, ou seja, à superfície das relações sociais; o Eu mascarado, do conhecimento do sujeito, mas não do conhecimento dos que o cercam. Ou seja: somente o sujeito conhece sem permitir que os outros conheçam. O Eu inconsciente que nem o indivíduo nem os outros conhecem. E o Eu cego, onde o sujeito não sabe, mas os outros sabem.
Admitindo que todo sujeito vive em um grupo social no qual ele interage e atua, o foco dessa proposta é se localiza entre o Eu inconsciente e o Eu cego. Entende-se, ainda, que através do conhecimento desta “verdade” sobre o sujeito, estaremos contribuindo para dar caminhos para a compreensão da formação do imaginário do grupo sobre o sujeito.
Ora, se as informações são oriundas do grupo, deve-se lembrar que é este mesmo grupo que anui ou refuta a expressão do sujeito participante dessa sociedade.
É importante levar em consideração que os membros do grupo mais próximo ao sujeito podem não compreender, individualmente, a existência de um consenso o qual se configura num conceito sobre uma pessoa.
Ressalte-se que a percepção do imaginário sobre a pessoa na relação sujeito/grupo e grupo/sujeito, revela-nos a força da interferência do grupo no cotidiano do sujeito.
Como o sujeito se desconhece como ator e, obviamente, desconhece, de forma minuciosa, a sua atuação, a importância desse conhecimento se apresenta como necessário ao entendimento do sujeito o qual oferta dados sobre sua atuação para que o sujeito, de posse destas informações, possa melhorar suas concepções orientadas por fundamentações mais consistentes.
Neste momento, o que interessa é “capturar a imagem” das representações dos diversos papéis sociais em meio a situações específicas. Interessa aquilo que é expresso pelo ator social junto ao seu grupo: não a personalidade, mas o imaginário, a visão do outro a respeito deste que, somado ás outras visões, configura-se uma imagem. Eis o imaginário coletivo ou a quarta pessoa na relação inter-pessoal.
Entende-se que nem sempre aquilo que o sujeito acredita estar transmitindo ao seu grupo sobre sua pessoa através do seu comportamento é o que verdadeiramente o grupo concebe sobre o mesmo.
O referencial da “verdade” sobre o indivíduo passa a ser do grupo social e não mais do sujeito que pensa estar bem sucedido em sua atuação. Pode-se constatar que muitas vezes desconhece-se o limite – restrições - e espaço – potencialidades - necessário ou permitido pelo grupo social para a atuação do sujeito.
Para isso, é necessário um entendimento básico que afirma sobre as relações pessoais com o grupo: “antes de mudar os outros, devemos mudar a nós mesmos através de um processo de auto-conhecimento” (OLIVEIRA, 1999, p.33) e arremata citando Penteado: “o marketing de sucesso começa pelo marketing pessoal, através dele o profissional deverá equacionar suas dificuldades [...] para se organizar e, só então, se dedicar ao planejamento estratégico” (p.23).
Nesse caso, independente de ser um planejamento estratégico pessoal ou de uma organização, o primeiro tem influência sobre o segundo devido à confiança da responsabilidade atribuída ao papel que cada um desempenha dentro do processo da organização.
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