O Recurso da amizade

Uma vez, durante uma conversa com um palestrante religioso, falávamos dos tipos de relacionamentos que a modernidade impõe. Quando menos esperava, ouvi com justificativas a afirmação de que a amizade não existe. Exatamente, ouvi que a amizade não existe por causa disso e daquilo. Como não esperava ouvir algo desse tipo de uma pessoa esclarecida, confesso que fiquei chocado. Quanta contradição! Afinal, sendo uma pessoa esclarecida na fé, nunca imaginei que agisse assim.

Então fui rever meus conceitos sobre a existência da amizade nos relacionamentos, fui verificar quem estava com a razão.

Realmente, olhando pela ótica do pragmatismo que prevalece nos dia atuais, podemos dizer que ele tem razão. Afinal, é fácil perceber que as pessoas estão mais interessadas em atender aos seus interesses imediatos do que prestar atenção a alguém do lado. Da mesma forma, preferem conquistar admiradores distantes através de sua máscara do que correr o risco de sentir-se rejeitado por pessoas próximas. Talvez esteja ai o motivo dos relacionamentos volúveis e descartáveis.

Contudo, isso não quer dizer que amizade não existe. Afinal, amizade não é uma entidade, ou algo de vida própria, que se apodera de duas pessoas. Assim como não é algo que devemos ver para crer em nossa vida. Na verdade amizade é algo que devemos crer para ver.

Portanto, somente acreditando na amizade é que poderemos encontrá-la. E como acreditar é ação, significa dizer que para encontrar um amigo, é necessário experimento ou ensaio com as pessoas em nossa volta para, depois, ser feito investimento maior de insistência, respeito, transparência e lealdade. Precisa ser cultivada.

È possível que a negação dessa prática acabe por tirar da vida do sujeito uma forma eficaz de ajuste do ego frente aos desafios da vida. Reconheço que pode ser difícil de encontrar um amigo e tanto mais difícil será quanto mais eu exigir características dele que se curvem aos meus propósitos.

Mas como amizade é regulada por um equilíbrio de forças e respeito, não se justifica a necessidade de sentir-se superior ou inferior, como também de subjugar.

De tanto ouvirmos as pessoas dizendo o quanto que as outras pessoas faltaram com ela, podemos deduzir que, para alguém conquistar um amigo, é necessário despojar-se de exigências egoístas. Ao invés de ir buscar algo, levar. Ao invés de querer alguma coisa, dar.


Para ter amigo...

Não sou eu o dono da verdade
O que busco é minha identidade
Por isso morro em irmandade
Para vivermos a felicidade

Viver isso em comunhão
É o prenúncio da realização
Do indivíduo com seu irmão

Saber ceder por uma causa
É o ego posto em pausa
Uma coragem que ousa
Acordar o amor que repousa

Aceitar outro e se envolver
È o mesmo que viver
Aprendendo a se conhecer



Copyright©Mhauro Garcia Filho