Humildade e humildade

Acho interessante a invocação da humildade em alguns momentos de conversa mais aprofundada. Via de regra essa palavra aparece como uma mediadora exortando para a necessidade de atitudes que não comprometam a relação.

Acontece que no momento em que essa palavra é usada, fica em aberto o local que ela deve ser aplicada. Se do lado de quem está falando ou se do lado de quem está ouvindo. Ou seja, no caso de ser aplicada nas intenções do transmissor, ou no caso de ser aplicada nas intenções do receptor.

Observando atentamente sobre o assunto, descobri um viés que ainda não tinha percebido. Ocorre que, muitas vezes, essa palavra é usada como escudo. Isso mesmo! E normalmente é pronunciada por quem se sente humilhado. Principalmente quando não existe arrogância por parte do transmissor.

Daí fica fácil de deduzir que, na verdade, o orgulho de quem se sente humilhado está pedindo socorro. Muito provavelmente o sentimento de humilhação se revele no momento em que a pessoa se vê como necessitada de aprendizado ou reflexão.

Portanto, fica assim: porque você quer me ensinar? Se você me ensinar significa que eu não sabia. Eu não quero aprender com você. Por isso, você está me agredindo. ...humildade!

Essa palavra, na boca do orgulhoso, se confunde com misericórdia. Mas tudo para salvar o seu orgulho. Tudo para não se curvar diante do aprendizado. Tudo para não reconhecer a fonte do ensinamento.

Mas, se você está pensando que não devemos usar essa palavra, digo que seu pensamento é equivocado. Na verdade, devemos, sim, exortar a humildade e vivenciá-la toda vez que ela se fizer necessária. Contudo, acho que ela deve ser endereçada.

Quer dizer: humildade para ouvir; humildade para falar. Afinal quando estamos ouvindo com essa bandeira, naturalmente sabemos reconhecer a importância do que é transmitido. E, de outra forma, quando estamos falando com humildade, naturalmente que a mansidão se torna a marca do ensinamento.

Aliás, isso já deveria estar implícito na atitude de humildade. Contudo, o desvirtuamento das coisas acaba por confundir o íntimo de cada um e até de servir de camuflagem.

Considere, ainda, que essa confusão acaba por desacreditar o homem. Ou seja, a fé nos homens fica comprometida, pois se outro do mesmo patamar de orgulho ouvir essa “defesa”, entende e reforça que o ensinamento é ofensivo. Daí confunde a cabeça dos mais simples sobre o que é certo e sobre o que é errado.

Quem clama por humildade nessas condições, na verdade, está querendo defender o seu orgulho e aniquilar a oportunidade de sublimação. E tome sacrifício da coerência, do bom senso e da humildade.

Mas existe um meio de dar nitidez a esse embotamento e identificar quem é quem.

É conhecer o que está implícito na Humildade. Portanto, quando alguém é despojado, sincero, autêntico, alegre, aberto para aprender e para ensinar, e ponderado, normalmente, esse já vem com a prática da humildade em suas ações.

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