
Não posso afirmar que essa observação se aplique a todas as comunidades porque estaria tentando, forçadamente, criar um único padrão de relacionamento. Por outro lado admito que, se as bases estruturantes para o desenvolvimento de valores em outros grupos sociais forem iguais aos da minha sociedade, seria possível uma visualização do cerne contraditório entre o necessário e o desnecessário para a convivência mútua, tendo como foco da observação as maneiras de aproximação entre as pessoas.
Como a socialização tem por objetivo o aprendizado de convivência coletiva, estabelecendo como campo neutro da nocividade humana a educação básica, a utilização de maneiras educadas por pessoas para pessoas é o ingresso para uma localidade situacional onde todos podem expressar suas existências. A comunicação se estabelece quando um é reconhecido pelo outro. No entanto, a educação está esquecida nos meios sociais gerando uma lacuna na relação interpessoal.
Mas isso não chega a ser o complicador. Apenas provoca a indagação sobre o que mantém tudo isso. O fato de alguém querer ignorar (ou realmente ignorar) o semelhante, negando-lhe acintosamente a existência, é a superfície da complexidade que obedece a uma lógica agressiva de auto-afirmação. A mensagem é o desprezo ao que não é importante, tentando fazer com que o transmissor seja visto como importante. Tal prática é usada como símbolo de status. O grave é que essa mensagem costuma provocar no receptor uma aceitação íntima dessa leitura como verdade fazendo com que este reproduza a mensagem.
O complicador é perceber que, apesar de esses receptores encontrarem-se ávidos por alguém que os reconheça, quando isto ocorre, eles mesmos desprezam aqueles que os reconhecem por acreditarem que ninguém tão importante poderia falar-lhes, ou seja, o receptor sofrido, carente, somente encontra valor no outro se for desprezado por ele. Assim o necessário se estabelece como desnecessário contradizendo a necessidade do ser enquanto fomenta o isolamento e a cultura do desprezo.
Mhauro Garcia Filho©2006
Mhauro,
ResponderExcluiro texto é profundo!
Eu fico imaginando essas relações que você descreve no microcosmo cearense. Posso pensar como isso se desenrola no processo de desconstrução do Outro pela via da alienação. E o nosso sistema de ensino faz isso - e como faz!! E não é só na Educação; o desprezo e a alienação caminham juntas com o consumismo, a idiotização e a coisificação do Outro. Nos acostumamos a fazer isso? Por que? Que trama é essa, que nos envolve e sufoca? Será que é apenas por sermos parte de uma província entre o sertão e o abismo?
Que pena! Que tristeza! Que VERGONHA! Estou solidário com você nesta luta contra essas "ausências" discursivas.
Forte abraço.
Rapaz, sinto-me fortalecido com sua presença em nosso flanco. Maior ainda é a satisfação por ser reconhceido pelos meus pares.
ResponderExcluirMeu caro, é bom tê-lo como amigo.
Abração.
Mhauro