CURSO FORMAÇÃO DE PREÇO

5/06/2008

Força Variada


Força Variada
19/06/2005




Personagens:
1 - Uma pessoa com o nome Rodolfo Mangabeira tem o codinome Paloma Miami. É transformista tentando a vida artística. Veio do interior de Piauí, não teve oportunidade de estudo e trabalha fazendo serviços gerais.


2 – Um homem maduro, cantor e ator em decadência, Frederico Fernandes tem o nome artístico Fredfer. É sulista, nascido em classe média, veio morar em Fortaleza. Fez sucesso nos anos 80 e 90 cantando músicas românticas e papo-cabeça. Egocêntrico, convencido, se acha sensível, veio para o nordeste para explorar a imagem conseguida pela televisão.




Cenário:
Camarim de um teatro.




Cena:
Paloma limpando o camarim quando entra Fredfer vindo de uma apresentação. Cansado, entra sem perceber a arrumadeira e senta na cadeira da penteadeira. Põe as mãos no rosto e fica pensando.


Paloma olha, faz algum barulho, mas o artista não dá atenção. Ela vai se aproximando, se aproximando disfarçadamente. Quando chega perto...


Fredfer dá um pulo esbravejando: DESCOBRI.


Paloma, calada, quase cai no chão do susto. Se treme toda e sai correndo para o lado assustada. Então pergunta ofegante: (batendo as mãos nas pernas e acomodando na cintura) Descobriu o quê, criatura?


O ator sem dar atenção à arrumadeira fica olhando para o infinito: Já sei o que fazer. Já sei!!


Paloma aproximando-se: Sabe o quê, sabe o quêêêê?


Fredfer percebe a presença da arrumadeira e diz se protegendo: Quem é você, o que você faz no meu camarim?


Arrumadeira: Eu sou a Paloma Miami, sou a nova arrumadeira.


Ator: Então você não é uma fã! ...você sabe quem sou?


Paloma: Claro que sei. Sou sua fã, sim! Sempre quis lhe conhecer pessoalmente, mostrar meu trabalho.


Ator (nervoso): Uma fã nada. Você é uma bicha louca querendo se aproveitar da minha fama.


Paloma: Você é o grande artista Fredfer e eu sou louca por você...


Ator: (interrompendo a fala da arrumadeira) Já chega!! Silêncio!! (pausa) Descobri como fazer para ser notícia. (pausa) Não vou mais me chamar de Fredfer. Quer dizer serei Fredfer mas meu nome não será mais pronunciável. Ele será impronunciável, será apenas uma marca. E somente a expressão da face, somente a alma das pessoas será capaz de pronunciá-lo. Terá essa marca (fazendo um desenho mostrando para a arrumadeira).


Paloma: E como é que se chama... ou faz, sei lá...


Fredfer: Olhe para mim. Isso, venha, olhe para mim e aprenda como transmitirei meu nome pela minha energia, pela minha expressão. (o ator olha para a bicha e faz uma sutil expressão com os lábios, olhos e nariz.)


A arrumadeira (olha ele todo com os olhos esbugalhados sem encontrar nada de especial) Cadê, criatura?


Ator: Olhe para mim, sinta... estou dizendo meu nome, dizendo quem sou. Na verdade expresso minha essência... sinta!


Arrumadeira: (toda torta, olhando apavorada, em dúvida, arrisca.) Estou vendo...


Ator: Não é vendo é sentindo, abra os seus canais...


Paloma: (Com olhar interessado e malicioso) Como assim... canais? (decidida) Olha eu sou uma pessoa direita, normalmente eu não faria isso, mas para o senhor eu abro.


Ator: (impaciente) Não é isso! Silêncio! Sinta o meu ser... preste atenção em mim.


Paloma: (olhando para o ator com atenção) Eu senti, eu senti... (afetada) que homem inteligente.... (correndo para o ator) eu quero ter um filho seu...


Ator: Filho? Que filho? Você é homem, você não pode ter filho.


Paloma: (melosa) Pelo menos a gente tenta...


Ator: Sai pra lá... (mudando o semblante) você sentiu mesmo?


Paloma: (batendo palmas e pulando) Sentiiiì.


Ator: Meu Deus, vai dar certo! O que você sentiu, ouviu minha mensagem, sentiu minha energia? Não importa, vamos, diga meu nome, eu quero sentir também.


Paloma: Mas como é que eu faço (com cara de abestado)?


Ator: Vamos, expresse o meu nome?


Paloma: (se contorcendo e fazendo força com os olhos. Olhando para o símbolo e para o ator várias vezes).


Ator: Eu senti! Eu também senti! Que força, que nome forte, eu sou demais... eu senti. (Se vira e ignora a bicha)
Agora serei reconhecido como um criador de expressão de nomes. Ninguém vai querer ter nome. Todos só vão querer ser sentidos pela energia do símbolo.


Paloma: (Sai para o lado olhando de ponta).


Ator: (continua) Acho que vou patentear essa idéia. Talvez venda para os estrangeiros, terei fama mundial. Talvez, (olhando para o símbolo) eu deva modificar essa forma, melhorar o estilo...


Paloma: (se “esforçando”, fazendo força no olhar)


Ator: (percebendo a bicha) o que você tanto me chama?


Paloma: O quê? Negativo! Eu tô aqui, na minha.


Ator: Que nada, (sorrindo de canto de boca) eu vi você me chamar várias vezes, agorinha mesmo.


Paloma: Eu, não!


Ator: Deixa de besteira. Eu sou sensível, percebi sua expressão, vi você me chamando...


Paloma: Eu, heim? Eu queria era soltar um pum!




Por: Mhauro Garcia

(Esquete escrito para um grupo de alunos de teatro)
Copyright©

Um comentário:

Grato pelo seu comentário.